


Quando Chico Science apareceu na música brasileira, nada podia causar mais estranhamento que seu visual, seu som e sua linguagem, coisas que eram a tríplice aliança da estética de seu trabalho. Quem viu ao vivo, não esquece. Seu transe, sua catarse durante os riffs hipnóticos da Nação Zumbi. Chico vestia seu maracatu moderno, anárquico, com alegoria (literalmente) na cabeça, tirando-lhe o sangue e o suor durante as apresentações.
Acabei de pensar que, de uma forma ou de outra, o design sempre esteve fortemente presente na vida do Chico. Seja na estética dos clipes, dos óculos, do maracatu, do sangue. Até na sua morte o design esteve presente, já que foi uma falha no cinto de segurança do Uno que o matou (quanto mesmo a Fiat pagou de indenização para sua família? 15 milhões de reais?).
Pois bem. Chegou a hora do design lembrar o Chico. Vi que a Nike homenageia o maior expoente do manguebeat com o lançamento do Nike Air Max 1 Lanceiro, com lama na sola, tantas vezes vomitada nas suas letras sobre a 4ª pior cidade do mundo. Batizado de lanceiro, o tênis homenageia os caboclos de lança, que se preparam o ano inteiro para as festas do carnaval. Vestidos com suas perucas e capas, cuidadosamente bordadas com miçangas coloridas, o tênis eterniza o povo e a bandeira do estado de Pernambuco.
O design é de Fabricio Costa. As palmilhas e os cadarços apavoram. Vem com a inscrição “um passo à frente e você já não está mais no mesmo lugar”. Vai Chico. Não pare nunca.